
O pão de polvilho, o cheirinho bom de café, coado sempre na hora (e no coador de pano), o limãozinho cristalizado com doce de leite. Um bem-querer que tempera o feijão de Ana Maria Peres, proprietária do restaurante Braseiro, no centro da cidade. “Quantas e quantas vezes Cora mandava buscar o meu feijão. Ela sempre dizia que eu tinha que procurar fazer sempre o melhor, como tudo na vida. Parece que vejo Cora na minha frente aprovando: ‘Olha, Ana, tempero não é técnica, tempero é mão’.”
O encanto pelo fogão se deve aos doces que dona Ana, bem menina, furtava da janela de Cora. Mas como resistir às frutinhas expostas ao sol para secar? “Eu era vizinha dela. Éramos 11 irmãos. Quando ela estava cozinhando, levantava aquele cheiro gostoso. Não tinha como evitar a traquinice. Mas ela já estava acostumada. Brigava com a molecada, mas também gostava muito de conversar, de aconselhar. Repetia que ler era muito importante.”
Um encanto e incentivo que fizeram dona Ana dividir seu talento com os cuidados com o marido, filhos e, agora, os netos que estão vindo, a zelar pelo restaurante com porta na praça e também a se dedicar como professora. “Qual a receita de tanta luta? É a vida quem ensina. Mulher vila-boense é matriarca. Tem cultura e espírito forte.”
Foi essa luta característica das mulheres da cidade que fez Aninha ou Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, iluminar Cora Coralina. A menina que saiu de Goiás mocinha e voltou de cabelos brancos, para contar as histórias da casa velha da ponte:
Minha casa velha da ponte... assim a vejo e conto, sem datas e sem assentos. Assim a conheci e canto com minhas pobres letras. Desde sempre. Algum dia cerimonial foste casa nova, num tempo perdido do passado, quando mãos escravas a levantaram em pedra, madeirame e barro. Esquadrejaram tua ossatura bronca, traçaram teus barrotões na cava certa e profunda dos esteios altos, encaixaram teus linhamentos, cumeeiras, pontaletes, freixais, arrochantes e empenas, duras aroeiras, lavradas a machado, com cheiro de florestas, arrastadas em carretões de bois.
O encanto pelo fogão se deve aos doces que dona Ana, bem menina, furtava da janela de Cora. Mas como resistir às frutinhas expostas ao sol para secar? “Eu era vizinha dela. Éramos 11 irmãos. Quando ela estava cozinhando, levantava aquele cheiro gostoso. Não tinha como evitar a traquinice. Mas ela já estava acostumada. Brigava com a molecada, mas também gostava muito de conversar, de aconselhar. Repetia que ler era muito importante.”
Um encanto e incentivo que fizeram dona Ana dividir seu talento com os cuidados com o marido, filhos e, agora, os netos que estão vindo, a zelar pelo restaurante com porta na praça e também a se dedicar como professora. “Qual a receita de tanta luta? É a vida quem ensina. Mulher vila-boense é matriarca. Tem cultura e espírito forte.”
Foi essa luta característica das mulheres da cidade que fez Aninha ou Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, iluminar Cora Coralina. A menina que saiu de Goiás mocinha e voltou de cabelos brancos, para contar as histórias da casa velha da ponte:
Minha casa velha da ponte... assim a vejo e conto, sem datas e sem assentos. Assim a conheci e canto com minhas pobres letras. Desde sempre. Algum dia cerimonial foste casa nova, num tempo perdido do passado, quando mãos escravas a levantaram em pedra, madeirame e barro. Esquadrejaram tua ossatura bronca, traçaram teus barrotões na cava certa e profunda dos esteios altos, encaixaram teus linhamentos, cumeeiras, pontaletes, freixais, arrochantes e empenas, duras aroeiras, lavradas a machado, com cheiro de florestas, arrastadas em carretões de bois.
Por Leila K.
Jornal da USP março de 2007
O Jornal da USP é um órgão da Universidade de São Paulo, publicado pela Divisão de Mídias Impressas da Coordenadoria de Comunicação Social da USP.